Pompeia não pára de nos surpreender. Dois mil anos depois da catastrófica erupção do Monte Vesúvio a submergir sob um manto espesso de cinzas, este museu ao ar livre acaba de oferecer aos investigadores um novo e surpreendente presente. Os arqueólogos que escavam na Regio IX descobriram um fresco representando uma natureza morta no qual um artista desconhecido pintou algo que se parece muito com um dos pratos mais tradicionais da cozinha italiana: uma pizza. Os peritos que estão a analisar a pintura dizem que não pode, evidentemente, ser este típico prato italiano, mas talvez seja um precursor da pizza contemporânea.



 Decalque de um cão que morreu na erupção do Vesúvio de 79 d.C.

Decalque, a técnica que permite reconstruir a dor humana das vítima...



A representação é mais do que curiosa. Como explicam os responsáveis pelo Parque Arqueológico de Pompeia, o fresco, que decorava as paredes de uma antiga casa pompeiana, mostra, sobre uma bandeja de prata, uma focaccia (panis focacius), um tipo de pão plano, ao lado de um copo de vinho e várias frutas e especiarias. O pão está coberto por frutas, como romã, e possivelmente temperado com tâmaras e uma espécie de pesto (moretum, em latim), como parecem indicar os pontos amarelos e ocres visíveis no fresco. A bandeja também tem frutos secos e uma grinalda de medronhos amarelos.

 Vista do fresco que acaba de ser descoberto na Regio IX de Pompeia.
PARQUE ARQUEOLÓGICO DE POMPEIA

Vista do fresco que acaba de ser descoberto na Regio IX de Pompeia.

O fresco foi descoberto no átrio de uma casa na Ínsula 10 desta zona do sítio arqueológico.


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UM FRESCO MUITO REALISTA

O fresco foi descoberto no átrio de uma casa na Ínsula 10 desta zona do sítio arqueológico, junto ao limite entre a parte escavada e a parte por explorar da antiga cidade, que ainda se encontram sepultada sob toneladas de lapilli (bagacina) e cinzas. Nessa mesma zona, existia uma panificadora que foi parcialmente explorada entre os anos 1888 e 1891 e que voltou a ser estudada desde Janeiro.

Este singular tipo de iconografia era conhecido na Antiguidade Clássica como xenia e inspirava-se nos “presentes de hospitalidade” oferecidos aos convidados segundo uma tradição grega da época helenística. O tamanho da bandeja representada é mais uma amostra deste costume mencionado na literatura clássica. Segundo os especialistas, os antigos romanos consideravam este tipo de fresco um símbolo de requinte, não só culinário, como literário e artístico.

Entre outras coisas, os arqueólogos destacam a notável qualidade de execução do fresco. “Além da identificação meticulosa dos alimentos representados, encontramos neste fresco alguns temas do período helenístico, desenvolvidos mais tarde por autores da época romano-imperial como Virgílio, Marcial e Filóstrato. Faz-me pensar no contraste entre uma comida frugal e simples, que remete para um âmbito entre o bucólico e o sagrado, por um lado, e o luxo das bandejas de prata e o requinte das representações artísticas e literárias”, comenta Gabriel Zuchtriegel, director do Parque Arqueológico de Pompeia.

Quanto à sua semelhança com o famoso prato da actualidade, Gabriel Zuchtriegel faz a seguinte reflexão: “Como não pensar numa pizza, que também nasceu como um prato pobre no Sul de Itália e conquistou o mundo e até é servida em restaurantes com várias estrelas?”

Pormenor do muro no qual foi pintado este singular fresco pompeiano.
PARQUE ARQUEOLÓGICO DE POMPEIA

Pormenor do muro no qual foi pintado este singular fresco pompeiano.