O elevado ritmo de produção e o consequente crescimento económico dos países coloca desafios à casa que habitamos, a Terra, que já é incapaz de se regenerar ao mesmo ritmo que nós exploramos os seus recursos.

CADA VEZ MAIS CEDO

Nesta semana, o planeta entrou em défice ecológico, o que significa que os ecossistemas deixarão de ser produtivos durante o resto do ano. A previsão é da Global Footprint Network, a organização que calcula com maior rigor o impacto ambiental dos países, dividindo o consumo de recursos regeneração da biosfera (designado por "pegada ecológica") pela capacidade de esse dia está a chegar cada vez mais cedo (designada por "biocapacidade").

GLOBAL FOOTPRINT NETWORK
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Neste mapa do défice ecológico, pode ver a vermelho os países cujas necessidades excederam a biocapacidade do seu território. Entre eles encontram-se Portugal, Espanha, México, China, Índia e Estados Unidos. Por outro lado, o verde escuro mostra os países que têm reservas naturais suficientes para suprir as necessidades das suas populações: a República Democrática do Congo, o Brasil e a Bolívia são alguns deles.

Todos os anos, os especialistas fixam a data aproximada em que os recursos naturais do planeta se esgotarão, e o mais preocupante é que esse dia chega cada vez mais cedo. Embora nos últimos cinco anos a tendência se tenha estabilizado, há vinte anos atrás o Dia da Sobrecarga da Terra foi estabelecido a 12 de Setembro, um mês e 10 dias mais tarde do que a data actual.

Esta realidade põe a nu a ineficácia das soluções propostas para travar a crise ecológica com que a humanidade se confronta, que deveriam abranger tanto a dimensão local como a global. Porque enquanto alguns países, como o Brasil, Angola ou Equador, dispõem de reservas naturais suficientes – embora não infinitas – para satisfazer as necessidades das suas populações, o Qatar, por exemplo, precisaria actualmente de 8,2 planetas Terra para cobrir o seu nível de exploração do ecossistema.


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O QUE ACONTECE DEPOIS DO DIA DA SOBRECARGA DA TERRA?

O facto de se atingir a data estabelecida pela Global Footprint Network é significativo porque significa que, a partir desse dia, começaremos a comprometer os recursos disponíveis previstos para o futuro. Os especialistas alertam para o facto de as consequências da sobre-exploração dos ecossistemas serem cada vez mais frequentes no nosso quotidiano, manifestando-se sob a forma de incêndios, desflorestação, aumento das emissões de gases com efeito de estufa e perda de biodiversidade.

A data média nos países ocorreu a 2 de Agosto, mas alguns países ultrapassam esta data muito mais cedo. Nos Estados Unidos, no Canadá e nos Emirados Árabes Unidos, o dia da sobrecarga em 2023 foi 13 de Março. Para outros, este dia chega um pouco mais tarde: no México, por exemplo, será atingido a 31 de Agosto. E os países dotados de uma reserva natural abundante, como a Colômbia, Cuba ou Equador, terão a sobrecarga entre Novembro e Dezembro.

A organização regista estes dados desde 1961 e as suas previsões actuais são o resultado de uma combinação de números recentes e tendências históricas. Os resultados são utilizados pelas instituições para planear estratégias que permitam abrandar o avanço da data, que ameaça chegar mais cedo se a humanidade continuar a consumir recursos ao ritmo actual.

Hoje, estamos a meio caminho da implementação dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030. Passaram oito anos desde a sua adopção pelos 194 membros, e faltam sete anos para que a eficácia dos esforços possa ser medida. Neste sentido, os dados da Global Footprint Network serviriam como indicador para calcular o progresso alcançado em termos de sustentabilidade, mas a organização prevê que, para atingir os objectivos estabelecidos, a data deverá ser adiada 19 dias por ano até 2030.

NÃO HÁ PLANETA B

De acordo com o relatório de 2022, que se baseia em dados de 2018, a humanidade teria de utilizar os recursos de 1,75 Terras para satisfazer as suas necessidades. No entanto, este valor muda se o analisarmos através da pegada ecológica por pessoa de cada país e o dividirmos pela biocapacidade média, que se situa em 1,6 hectares globais por pessoa.
Estes resultados são úteis não só para mostrar a crise ecológica que o planeta está a sofrer, mas também para revelar quais os países que estão a consumir os recursos que correspondem às gerações futuras. Mas a organização insiste que, embora as grandes empresas e as instituições governamentais tenham mais poder para agir em termos de ambiente, os indivíduos também podem calcular a sua pegada ecológica individual e implementar pequenas mudanças na sua vida quotidiana para viverem bem com os recursos que a nossa única Terra nos oferece.