As evidências de que os seres humanos estão a causar alterações climáticas, com consequências drásticas para a vida no planeta, são arrebatadoras.

Os especialistas começaram a fazer soar o alarme sobre o aquecimento global em 1979, uma questão actualmente incluída no termo mais genérico “alterações climáticas” – o preferido pelos cientistas para descrever as complexas mudanças que estão a afectar o estado do tempo e os sistemas climáticos do nosso planeta. As alterações climáticas abrangem não só o aumento das temperaturas médias, como eventos de clima extremo, a alteração das populações e habitats de vida selvagem, o aumento dos níveis dos mares e uma série de outros impactos.

Mais de 200 países — 193 países mais os 27 estados-membros da União Europeia, incluindo Portugal – assinaram o Acordo de Paris, um tratado criado em 2015 para combater as alterações climáticas à escala global. O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), que sintetiza o consenso científico nesta matéria, estabeleceu como objectivo manter o aquecimento inferior a 2°C e desenvolver esforços para alcançar um limite ainda mais baixo: 1,5 °C.

No entanto, segundo o Climate Action Tracker, nenhum país desenvolveu políticas que mantenham o mundo abaixo desse aumento de 1,5 °C. Tendo em conta as emissões actuais, o mundo dever aquecer 2,8°C até ao fim deste século.

Lidar com o problema das alterações climáticas exigirá uma diversidade de soluções – mas não existe nenhum comprimido mágico. Contudo, quase todas essas soluções já existem – desde mudar as fontes de onde extra��mos a nossa electricidade a nível global a proteger as florestas da desflorestação.


12 revistas National Geographic agora com 45% de desconto 72€ 39,95€


Lago Urmia Irão
SEBASTIAN CASTELIER / SHUTTERSTOCK

Um dos maiores lagos salgados do mundo, o lago Urmia, no noroeste do Irão, diminuiu significativamente nas últimas décadas, provocando a desertificação da região. Fotografia de Agosto de 2015. 

A PROMESSA DAS NOVAS TECNOLOGIAS

Os cientistas estão a trabalhar em formas de produzir hidrogénio de forma sustentável, a maior parte do qual é actualmente derivado do gás natural, para alimentar células de combustível com emissões zero para transportes e electricidade. 

A energia renovável está a crescer e, nos EUA, uma combinação de energia eólica, solar, geotérmica e outras fontes renováveis fornece 20% da electricidade do país. 

No campo tecnológico, há promessas de construir baterias melhores para armazenar essa energia renovável, criar uma rede eléctrica mais inteligente e capturar o dióxido de carbono das centrais eléctricas e armazená-lo no subsolo ou transformá-lo em produtos valiosos, como a gasolina. 

DEVEMOS RECORRER À GEOENGENHARIA?

Embora seja fundamental travar as novas emissões de gases com efeito de estufa, os cientistas dizem que precisamos de extrair o dióxido de carbono existente da atmosfera, sugando-o efectivamente do céu. 

Retirar o carbono da atmosfera é um tipo de geoengenharia, uma ciência que interfere com os sistemas naturais da Terra, e é uma abordagem controversa para combater as alterações climáticas.

Outros tipos de geoengenharia envolvem a pulverização de aerossóis reflectores da luz solar no ar ou o bloqueio do sol com um espelho espacial gigante. Os estudos existentes sugerem que não sabemos o suficiente sobre os potenciais perigos da geoengenharia para a implementar.

Oleo de palma
KENCANA STUDIO/ SHUTTERSTOCK

Os cachos de palma são colhidos à mão e transportados por camião para um moinho na Malásia continental, onde são processados. As florestas antigas dos trópicos estão a ser cortadas para dar lugar a plantações de óleo de palma. Quando estas florestas se perdem, o carbono que mantinham preso nos seus tecidos é libertado para a atmosfera, contribuindo para o aumento do aquecimento global.

RESTAURAR A NATUREZA PARA PROTEGER O PLANETA 

Plantar árvores, restaurar ervas-marinhas e aumentar o uso de culturas de cobertura poderá contribuir para a absorção de quantidades significativas de dióxido de carbono.

A floresta húmida da Amazónia é um importante reservatório do carbono terrestre, mas um estudo publicado em 2021 mostrou que a desflorestação estava a transformar este reservatório numa fonte de poluição.

O restauro e a protecção da natureza podem contribuir com até 37 por cento da mitigação necessária para alcançar as metas propostas pelo Acordo de Paris para 2030. Proteger estes ecossistemas também pode beneficiar a biodiversidade – ou seja, a natureza sai sempre a ganhar.

ADAPTAÇÃO OU…

Comunidades de todo o mundo já estão a reconhecer que a adaptação também deve fazer parte da resposta às alterações climáticas. Desde cidades costeiras propensas a cheias a regiões que enfrentam um número crescente de secas e incêndios, uma nova vaga de iniciativas está a concentrar-se em promover a resiliência. Estas incluem gestão ou prevenção da erosão do solo, construção de micro-grelhas e outros sistemas de energia para suportar os distúrbios e design de edifícios contemplando o aumento dos níveis dos mares.

No ano passado, nos Estados Unidos da América, foi promulgada o Inflation Reduction Act, assinalando um investimento histórico na luta contra as e a adaptação às alterações climáticas.

Livros recentemente publicados, como "Drawdown" e "Designing Climate Solutions", propuseram planos ousados, mas simples, para reverter o rumo actual. As ideias variam, mas a mensagem é sempre a mesma: já temos muitas das ferramentas necessárias para lidar com as alterações climáticas. Alguns dos conceitos são medidas amplas que governos e empresas têm de implementar, mas muitas outras ideias implicam mudanças que qualquer um pode fazer: comer menos carne, por exemplo, ou repensar os seus meios de transporte.

“Já temos a tecnologia necessária para adoptarmos rapidamente um sistema de energia limpa”, escrevem os autores de "Designing Climate Solutions". “E o preço desse futuro, para não mencionar os benefícios ambientais, é praticamente o mesmo que o de um futuro maioritariamente à base de carbono.”

Parque Nacional de Fiordland, na Nova Zelândia
ANNIE GRIFFITHS / NAT GEO IMAGE COLLECTION

O Sol poente ilumina um glaciar no Parque Nacional de Fiordland, na Nova Zelândia. Glaciares de todo o mundo estão a derreter rapidamente à medida que o planeta aquece.

Artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com.