Uma das figuras incontornáveis da segunda metade do século X no território que constituiria mais tarde o Norte de Portugal foi seguramente Dona Flâmula Rodrigues. Nascida no seio da elite condal, responsável pelo povoamento das regiões do Minho, Trás-os-Montes e Beira, no século X, Dona Flâmula era sobrinha de Mumadona Dias, fundadora do Mosteiro e do Castelo de Guimarães.

Com efeito, em 960, Dona Flâmula, pressentindo a proximidade da morte por doença, decidiu entrar como devota no Mosteiro de Guimarães, ao qual doou os bens. Na doação, constava um impressionante rol de dez fortificações entre os rios Távora e Côa. Entre os bens doados figuravam os castelos de Trancoso, Moreira de Rei, Longroiva, Numão, Meda, Penedono, Sernancelhe e Caria.

Fortaleza de estilo românico anterior à nacionalidade, foi reforçada por Dom Dinis, que mandou acrescentar-lhe sete torres amuralhadas. A cerca de muralhas foi restaurada em 1173, 1282, 1530 e 1940.


Fortaleza anterior à nacionalidade, foi reforçada por Dom Dinis, que mandou acrescentar-lhe sete torres amuralhadas. A cerca de muralhas foi restaurada em 1173, 1282, 1530 e 1940. De estilo românico, apresenta torres de planta rectangular e quadrangular, adossadas pelo exterior.

 

Desconhecemos se Dona Flâmula interferiu directamente na renovação ou reconstrução de qualquer um desses castelos eventualmente fundados pelo seu pai ou avô. De qualquer forma, não deixa de ser interessante verificar como uma mulher, em plena Idade Média, assumiu especial protagonismo ao ser detentora de um tão vasto conjunto de fortificações.


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Entre os castelos enumerados, o monumento que se destaca pela sua inusual e persistente arquitectura é o Castelo de Trancoso. Apesar das reformas arquitectónicas sofridas nos séculos XII e XIII, o aspecto mais interessante deste castelo reside na torre de menagem. O seu perfil troncocónico (em forma de cone) com 12 metros de alçado e uma porta situada no primeiro andar com um interessante arco ultrapassado denunciam uma construção de meados do século X.

A fortificação de Trancoso não resistiu ao assédio de Almançor e, em finais do século X, a bandeira muçulmana haveria de ser hasteada na sua torre.
ANTÓNIO RIBEIRO / SHUTTERSTOCK

A fortificação de Trancoso não resistiu ao assédio de Almançor e, em finais do século X, a bandeira muçulmana haveria de ser hasteada na sua torre.

A torre edificada tinha como finalidade vigiar e controlar o território de Trancoso. Assim, o exemplo de Trancoso espelha na actualidade o empenho condal na defesa e vigilância deste território em meados do século X, ao erguerem esta singular torre que marca a arquitectura militar portuguesa.

A icónica torre, à época, não possuía qualquer cintura de muralhas a protegê-la, uma vez que a estrutura edificada se eleva sobre os afloramentos graníticos.

No entanto, a fortificação de Trancoso não resistiu ao assédio de Almançor e, em finais do século X, a bandeira muçulmana haveria de ser hasteada na sua torre.

A situação durou pouco tempo, uma vez que Fernando, O Magno, durante a campanha militar de 1055, recuperou o castelo e entregou-o de novo à posse do Mosteiro de Guimarães.

A construção da muralha em torno da torre deve ter ocorrido na segunda metade do século XII, logo após o ataque muçulmano de 1140, que arrasou o espaço. A secular torre de Dona Flâmula converter-se-ia agora numa torre de menagem, definindo o perfil futuro do Castelo de Trancoso.

 

 

Construção: Século X

Classificação: Monumento Nacional

Horários: De 1 de Junho a 30 de Setembro, de 2.ª a 6.ª, das 9h30 às 12h30 e das 14h às 18h. Sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 13h e das 15h às 18h30. De 1 de Outubro a 31 de Maio, dias úteis das 9h às 12h30 e das 14h às 17h30. Sábados, domingos e feriados das 9h às 12h30 e das 14h às 17h30. Encerra domingo de Páscoa, 1 de Maio, 1 de Novembro, 24 e 25 de Dezembro, tarde de 31 de Dezembro e 1 de Janeiro.

Preços: Entrada gratuita.

Contactos: Tel. +351 271 829 120; geral@cm-trancoso.pt

Artigo publicado originalmente na Edição Especial Viagens da National Geographic "Guardiões de Pedra: Castelos, Torres e Fortes de Portugal".