Castelo de Noudar, o castelo do imaginário

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19 de Novembro de 2021

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De acordo com a interpretação do arqueólogo Miguel Rego, a primeira estrutura militar poderá ter sido apenas uma torre de protecção ao pequeno povoado islâmico.

Alcandorado numa elevação que coroa o rio Ardila e a ribeira de Múrtega, Noudar soube preservar o legado árabe e cristão que perdura na memória.

Texto: Paulo Rolão

Os castelos de Lindoso, Longroiva ea fortaleza de Juromenha contêm características de distinção para lá da época em que foram edificados ou do estilo arquitectónico com que foram moldados. Todos possuem uma aura mística e todos reproduzem histórias do território nacional. Todos têm também um entorno cénico que engodam o olhar sobranceiro para terras de Espanha. O mítico Castelo de Noudar perfila-se entre eles como um dos mais belos de Portugal.

A sua história é atribulada e corre em paralelo com a de Barrancos. Nos séculos XIV e XV, as refregas constantes na fronteira forçaram o abandono quase definitivo do castelo, que foi mudando de mãos durante as contendas institucionais com Castela. Só na primeira metade do século XV é que a área do castelo ficou definitivamente sob jurisdição da coroa portuguesa.

Para trás, ficaram as marcas da passagem de povos e culturas que foram esculpindo as pedras da velha fortaleza à medida das suas vontades – os muçulmanos andaram por aqui. Foram descobertas duas estelas árabes do século XI que indiciam um momento de “arabismo” forte por alturas da chegada dos almorávidas ou a importância do sítio como zona militar.

Ilustração: Anyforms Design

Após a Reconquista Cristã entre 1232 e 1234, Dom Dinis instituiu aqui o Couto de Homiziados (incentivo à fixação de população) e os monges-soldados de Avis criaram a vila amuralhada que conhecemos. A guerra da Restauração da Independência foi um dos últimos momentos que atestaram a importância estratégica da vila e do Castelo de Noudar – seguiu-se o abandono da vila e a velha fortaleza entrou em processo de decadência.

O visitante que ali chegue não deixa de ficar impressionado ao avistar a silhueta do castelo. Uma vez lá chegado, por uma estrada de terra batida que atravessa o território do Parque de Natureza de Noudar, percebe-se a importância de outrora, conferida pela torre de menagem com 18 metros de altura e uma cerca de muralhas que confinam a alcáçova. No interior do recinto amuralhado, encontram-se outras estruturas relevantes. O foco principal vai para a Igreja de Nossa Senhora de Entre Ambas as Águas (posteriormente renomeada como Nossa Senhora do Desterro), construída no século XVI e que tudo indica que estará implantada sobre uma pequena igreja moçárabe. Sobressaem igualmente as ruínas da antiga casa do governador, além de outras edificações menores. Nas obras de requalificação, que enquadraram escavações arqueológicas iniciadas em 1981, foram postos à luz do dia os vestígios de diversas culturas que ocuparam aquela área. Hoje, o castelo está sob jurisdição do município barranquenho.

Visitado o interior, há uma opção a ter sempre em conta: subir ao alto das muralhas e ficar cativo do que a vista alcança: o cerco pela ribeira de Múrtega e pelo rio Ardila. Na margem oposta, Espanha é já ali.