cultură şi spiritualitate
Desde o final do século XVII ao início do século XX, o reino do Daomé na África Ocidental (atual Benim) foi protegido por um regimento de guerreiros composto inteiramente por mulheres. Retratadas nesta impressão litográfica do século XIX, estas mulheres eram amplamente conhecidas como defensoras ferozes do seu reino.
Podemos considerar que é uma mera coincidência ou um golpe de génio dado o momento em que o foco está no turismo. No início deste ano, quando se espalhou a notícia de que uma estátua de trinta metros de altura da rainha Tassi Hangbe tinha sido erguida na nação do Benim, na África Ocidental, quase que se podia ouvir o som das calculadoras a somar as receitas dos futuros viajantes inspirados a visitar esta nação depois de verem o filme “A Mulher Rei”.
As extravagâncias históricas geralmente dão lucro às bilheterias, sobretudo as que envolvem trajes ousados e combates ferozes. Mas este último filme beneficia de um timing perfeito, dado que surge no rescaldo do filme de sucesso "Pantera Negra" de 2018. O conto épico da Marvel sobre a nação fictícia africana de Wakanda é o precursor ideal para um filme mergulhado no folclore e na história de um grupo real de mulheres guerreiras africanas, cuja bravura feroz surpreendeu todos os seus oponentes.
Guerreiras de Daomé atravessam um riacho. Embora as mulheres desta unidade militar sejam frequentemente chamadas amazonas por serem exuberantes, os historiadores dizem que este termo colonial não faz justiça a mulheres bastante reais e aos seus feitos.
As mulheres guerreiras de Daomé eram conhecidas por muitos nomes na língua Fon — incluindo Gbeto, Agojie e Mino.
Longe dos trajes elegantes das suas representações no cinema, estas mulheres usavam túnicas e calções longos durante o combate.
Contudo, o rótulo amazonas dado a estas mulheres guerreiras do Reino de Daomé, na África Ocidental, não é correto na opinião da historiadora Pamela Toler.
“Para além de ser uma referência decididamente colonial, estamos a reforçar a ideia de que são exceções e de que nenhuma mulher normal poderia ser tão grandiosa”, diz Pamela Toler. “É uma perspetiva muito europeia sobre estas mulheres incríveis.”
Pamela Toler, autora do livro Women Warriors: An Unexpected History, diz que é importante conhecer a história completa deste regimento de guerreiras que existiu desde o final do século XVII até ao início do século XX. De facto, um exame às suas origens e à sociedade de onde surgiram fornece uma imagem mais multidimensional sobre estas mulheres guerreiras e do legado que deixaram.
Até recentemente, a grande maioria das representações da cultura popular caracterizava o continente africano como um meio agrário e pouco civilizado antes da chegada de europeus como o explorador português Infante Dom Henrique, no século XV.
Porém, antigas civilizações poderosas floresceram por todo o continente, incluindo o pré-histórico Reino de Punte e os reinos de Aksum e Núbia no nordeste de África; os impérios de África Ocidental de Achanti, Mali e Songai; e o Reino do Zimbabué.
Um mapa de Daomé e arredores, do livro The History of Dahomey de 1793 do comerciante de escravos e historiador Archibald Dalzel.
Na África Ocidental, Daomé esculpiu um legado indelevelmente poderoso. Conforme descrito na Enciclopédia Britânica, este reino estabeleceu um governo bem organizado no qual o rei era considerado semidivino e tinha o controlo absoluto sobre os assuntos económicos, políticos e sociais. O rei era apoiado por um conselho de funcionários escolhidos da classe plebeia devido à sua lealdade ao rei e compromisso com o desenvolvimento da nação.
O seu acesso geográfico ao mar e a proeza estratégica dos seus líderes ajudaram Daomé a derrotar outros reinos costeiros, como Ardra e Whyda. Mas o aparecimento e expansão do comércio transatlântico de escravos acabou por ajudar a selar o seu domínio. Estima-se que desde a década de 1720 até 1852, quando os britânicos impuseram um bloqueio naval, os governantes de Daomé venderam centenas de milhares de pessoas de tribos e nações vizinhas para os britânicos, franceses, portugueses e outros. (Descubra o último navio negreiro encontrado no Alabama.)
O Reino de Daomé alcançou o domínio na África Ocidental com a força do seu exército disciplinado e liderança estratégica – mas também pelo papel na captura e venda de centenas de milhares de pessoas de nações vizinhas para o comércio transatlântico de escravos.
Behanzin, o último rei de Daomé, com a sua família em 1894. Embora o seu antecessor tivesse permitido a França reivindicar a cidade de Cotonou enquanto protetorado, Behanzin opunha-se fortemente à colonização e lançou um último esforço infeliz para acabar com a interferência europeia.
Behanzin, o último rei de Daomé, com a sua família em 1894. Embora o seu antecessor tivesse permitido a França reivindicar a cidade de Cotonou enquanto protetorado, Behanzin opunha-se fortemente à colonização e lançou um último esforço infeliz para acabar com a interferência europeia.
Para além do tráfico de escravos, Daomé travou batalhas para adquirir terras férteis para a agricultura e para impulsionar o seu comércio de óleo de palma. Os impostos e taxas cobradas por estes dois empreendimentos ajudaram Daomé a construir uma imponente presença militar.
Eventualmente, as invasões sucessivas de comunidades vizinhas reduziram significativamente o número de homens do reino, preparando o terreno para as mulheres assumirem o papel de guardiãs e protetoras.
Um dos relatos sobre as suas origens afirma que estas mulheres eram caçadoras de elefantes que serviam o rei Houegbadja, o terceiro rei de Daomé, por volta de 1645 até 1685. Conhecidas por Gbeto na língua Fon, o site Mulheres na História Africana da UNESCO diz que “caçavam todos os tipos de caça, incluindo elefantes, os animais mais valiosos e difíceis de matar”.
Os elefantes foram praticamente exterminados da área em meados do século XIX. As Gbeto foram depois integradas no exército de mulheres guerreiras – e usavam blusas castanhas e calções castanhos e azuis pela altura do joelho.
Uma gravura de duas tribos rivais em batalha, em Daomé, 1879.
Uma obra exposta no Palácio de Abomei, no atual Benim, mostra cenas de batalha entre europeus e daomeanos.
Estas mulheres guerreiras também eram conhecidas por outros nomes na língua Fon, incluindo Agojie, Agoji, Mino ou Minon. Mas a história predominante de origem das mulheres guerreiras de Daomé diz que o seu grupo foi formado às ordens da rainha Hangbe, filha de Houegbadja, que subiu ao poder depois de o seu irmão gémeo Akaba ter morrido em circunstâncias misteriosas no início do século XVIII.
O facto de Hangbe ter reunido um esquadrão de mulheres dispostas a morrer para a proteger e ao seu reino foi um feito impressionante na sociedade profundamente patriarcal de Daomé.
Estas mulheres guerreiras não eram concubinas ou servas obrigadas a ceder aos caprichos de qualquer homem. E não surgiram do nada; os historiadores realçam há muito tempo a proeminência das mulheres em algumas sociedades africanas. No livro Continent of Mothers, Continent of Hope: Understanding and Promoting Development in Africa Today, o autor Torild Skard escreve sobre as guerreiras de Daomé.
“(Elas) eram famosas pelo seu zelo e ferocidade. As mais temíveis estavam armadas com espingardas. Também havia arqueiras, caçadoras e espiãs. Exercitavam-se regularmente para estarem física e mentalmente aptas para o combate. E cantavam: ‘Homens, homens fiquem! Que os homens fiquem! Que cultivem milho e palmeiras... Nós vamos para a guerra.’ Quando não estavam em combate, estas mulheres guardavam os palácios reais em Abomei e cultivavam frutas e legumes. E também podiam sair e levar prisioneiros para vender como escravos.”
Apesar de ser apelativo pensar que as guerreiras de Daomé podiam ser parecidas com as lutadoras elegantes e ferozmente glamorosas retratadas em Pantera Negra, a historiadora Pamela Toler diz que a realidade era bem diferente.
“No século XIX, os relatos contemporâneos dizem que os seus uniformes eram muito semelhantes aos dos seus colegas homens, e que as pessoas que lutavam contra elas só percebiam que eram mulheres quando já estavam muito perto em combate corpo a corpo”, diz Pamela Toler. “Elas provavelmente usavam calções longos, uma túnica e um boné, não os trajes sexualizados que vemos nas representações modernas de guerreiras.”
Para além dos seus talentos no combate corpo a corpo, as mulheres guerreiras de Daomé eram especialistas com arco e flecha.
As mais habilidosas da unidade eram selecionadas para serem arqueiras, e usavam flechas em gancho com veneno para travar os seus inimigos.
As histórias sobre as suas façanhas surpreenderam muitos exploradores europeus e comerciantes de escravos, e as guerreiras da região ajudaram a polir a reputação de Daomé enquanto força a respeitar.
“Elas eram de facto temíveis e excelentes atiradoras”, diz Pamela Toler. “Eram habilidosas no combate corpo a corpo e usavam armas muito parecidas com facas de mato. E não havia absolutamente ninguém que lhes dissesse que não se deviam envolver em combate, ou que não tinham força na parte superior do corpo, como se ouvia dizer na história europeia e norte-americana até recentemente.”
Embora a maioria dos registos sobre as guerras travadas por Daomé envolva batalhas com reinos vizinhos pelo controlo de cidades costeiras, houve uma mudança que começou no final da década de 1870, depois de o reino ter concordado em deixar a França reivindicar a cidade de Cotonou como protetorado. Em 1883, a cidade vizinha de Porto-Novo, uma das rivais de Daomé, recebeu a mesma designação.
Contudo, em 1889, um novo rei chegou ao poder. O rei Behanzin recusou a interferência europeia e acabou por ordenar ataques de escravos e outras hostilidades contra os protetorados franceses. Isto levou à Segunda Guerra Franco-Daomeana, que durou de 1892 até 1894, uma guerra que alguns historiadores apontam como o fim do papel dominante das mulheres guerreiras de Daomé.
Historiadores como Pamela Toler estão ansiosos para ver se o filme "A Mulher Rei" irá produzir uma representação mais contextual sobre estas mulheres que escolheram um caminho que rejeitava limitações ou restrições de género. É algo extremamente importante, pois a imagem da mulher africana no cenário global tem um longo caminho para percorrer até se tornar capacitada, os invés de empobrecida.
Guerreiros de Daomé, uma série de imagens criadas pelo desenhador, ilustrador e impressor francês Jean-Charles Pellerin em França em 1870. Jean-Charles Pellerin foi pioneiro neste estilo de impressão que usa cores brilhantes para retratar um tema popular.
É impossível negar que as mulheres fizeram contribuições significativas para o desenvolvimento das nações africanas enquanto comerciantes, educadoras, cultivadoras, sacerdotisas, curandeiras e muito mais. E embora líderes como Ana Nzinga, rainha do Ndongo, Dona Beatriz, a profetisa do Congo e Idia, rainha-mãe do Benim – juntamente com heroínas modernas como as vencedoras do Prémio Nobel da Paz Wangaari Maathai e Ellen Johnson Sirleaf – revelem o poder e as proezas das mulheres africanas, o curador de arte e historiador Alexander Ives Bortolot resume os desafios que ainda permanecem.
“Não há dúvida de que existiram mulheres importantes e célebres noutros períodos da história africana, mas antes da era do contacto com a Europa, os registos escritos com os seus nomes e conquistas simplesmente não existem. As narrativas indígenas sobre estas mulheres não sobreviveram até aos dias de hoje ou ainda não foram reconhecidas e registadas. Porém, à medida que o estudo da história africana continua, as identidades de outras mulheres africanas notáveis certamente serão reveladas.”
Talvez a maior visibilidade na representação das mulheres africanas da vida real como sendo poderosas e autodefinidas possa ajudar a alcançar esse objetivo. Quanto mais pessoas conhecerem a história das mulheres guerreiras de Daomé, melhor, acrescenta Pamela Toler.
“Elas provaram que as mulheres são mais fortes do que a sociedade pensa, e até mais fortes do que as próprias mulheres possam acreditar. Elas fizeram a escolha de lutar, e foi uma escolha completamente apropriada.”
Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site nationalgeographic.com
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