cultură şi spiritualitate
https://www.natgeo.pt/viagem-e-aventuras/2022/08/nao-dependa-das-re...
Os especialistas revelam os seus segredos para manter um diário de viagem fácil e memorável, sem usar as redes sociais para preservar memórias.
Esta é uma questão quase tão antiga quanto o próprio desejo de viajar: como é que preservamos as descobertas que fazemos – e as lições que aprendemos – nas nossas jornadas?
Atualmente, com toda a documentação digital, esta questão é ainda mais pertinente. Isto porque, mesmo que a internet seja para sempre, uma publicação no Instagram não chega perto das sensações de uma viagem real – por exemplo, a forma como um lugar novo nos faz sentir, o cheiro no ar, o sabor da comida, o som das gargalhadas num café, os ecos num desfiladeiro.
Portanto, o regresso dos diários de viagem talvez não seja assim tão surpreendente. Se um diário era bom o suficiente para o historiador grego Heródoto, cujo relato das suas viagens no Mediterrâneo oriental e no Egito (por volta de 440 a.C.) resistiu ao teste do tempo, então também é bom o suficiente para as nossas próprias viagens.
Através da tecnologia consagrada de um diário de viagem, podemos tirar uma fotografia íntima e autêntica de uma experiência e deixá-la fazer parte da nossa vida e de futuras jornadas, enquanto encontramos um equilíbrio entre expor todos os momentos no Instagram e encher a casa com recordações.
As coisas efémeras de papel – mapas, bilhetes, folhetos – são adições táteis a um diário de viagem. Nesta imagem, um cartão postal de Vicksburg decora um relato da década de 1930 de uma viagem em família pelo Mississippi.
No entanto, existem algumas formas modernas de manter um diário útil e inspirador. Curiosamente, não envolvem fazer publicações sobre as nossas viagens online. Há uma razão para isto – os nossos perfis online mostram o nosso melhor lado e, intencionalmente ou não, geralmente adaptamos as publicações ao que achamos que as outras pessoas querem ver. Num diário de viagem pessoal, registamos uma versão mais autêntica dos eventos sem ter de agradar a um público externo. O objetivo é fazer a leitura de uma pessoa: nós próprios.
Com um registo físico, guardamos muito mais do que fotografias e algumas palavras. Registamos coisas que nos parecem significativas. Ao folhear um diário ou fotografias impressas, partilhamos o momento com nosso eu do passado, enquanto refletimos sobre o que estávamos a pensar e a sentir durante as nossas viagens. Com um pouco de planeamento, caneta e papel, todas as partes mais importantes da sua próxima viagem podem ficar acessíveis durante os próximos anos. Pode parecer intimidante, mas a parte mais difícil é começar.
Antes de se fazer à estrada ou voar, o primeiro passo para o sucesso de um diário é levar os materiais certos. A norueguesa Hedda Helle Kalland (@mochibujo no Instagram e YouTube) ganha a vida a partilhar as suas viagens e a fazer diários online.
“Vai usar coisas que são fáceis de tirar e de levar para todo o lado”, diz Hedda Kalland. “Eu tento não fazer as coisas muito elaboradas porque não é conveniente, sobretudo quando estamos a viajar.”
Para se certificar de que tem tempo suficiente para fazer uma pausa e refletir, reserve momentos para se sentar num café ou bar, para se deitar na praia ou num parque. Defina um lembrete no telemóvel para se sentar e anotar o que lhe vier à mente, sem qualquer tipo de julgamento, durante uns cinco ou dez minutos. Nas viagens turísticas mais movimentadas, pode ser uma bênção ter algum tempo para descansar os pés e apreciar realmente todas as coisas bonitas e interessantes. Isto também pode ajudar a definir um horário para fazer uma pausa natural na atividade, como um passeio de comboio ou ao final da noite.
Para os momentos em que sente bloqueio de escritor, anote algumas dicas simples no seu caderno: O que fiz ou vi pela primeira vez hoje? Quando é que senti emoções fortes? O que consigo ouvir ou cheirar neste momento e local? Qual foi a coisa mais difícil sobre o dia de hoje e como é que lidei com isso? O que vi ou fiz hoje que gostava de poder incorporar na minha vida quotidiana?
Um primatologista faz esboços e anotações na República do Congo.
Dica de profissional: Adicione artigos de papelaria divertidos ao seu kit para tornar o tempo que passa a escrever no diário mais agradável. Experimente canetas coloridas. Leve alguns autocolantes, selos e fita adesiva decorativa para destacar as suas inscrições. Deixe o destino inspirar uma paleta de cores e faça disso o tema visual do seu diário.
Registar uma experiência é sempre secundário ao estar presente e a participar conscientemente nas suas viagens. Quando tiver uma sensação de encanto, admiração ou até de adrenalina e nervosismo, reserve um tempo para viver essa sensação.
É impossível capturar todos os detalhes da sua viagem, portanto, decida onde se quer focar e observe os momentos que o afetam. Pode ser uma refeição, uma exposição num museu, uma conversa com um vendedor ou com o seu parceiro de viagem. Tire uma fotografia, tire algumas notas, guarde os recibos, esboços e bilhetes – ou até flores para pressionar no caderno. Os detalhes que captar vão ajudá-lo a lembrar-se e a envolver-se novamente com estas experiências daqui a alguns anos.
Se registar algumas informações essenciais vai tornar as suas anotações e fotografias muito mais úteis quando mais tarde as quiser recordar. Adquira o hábito de anotar a data, hora e local sempre que possível.
Esboços e notas descrevem o olinguito, ou Bassaricyon neblina, um animal descoberto em 2013 semelhante a um guaxinim que é nativo das florestas nubladas do Equador e da Colômbia.
O fotógrafo da National Geographic Mark Thiessen usa o telemóvel para registar dados de GPS quando está a trabalhar. Isto ajuda-o a identificar as imagens que faz nas viagens, incluindo uma que Mark fez para uma escavação arqueológica na Etiópia, onde muitos locais pareciam semelhantes num extenso deserto.
“Eu estava no deserto da Etiópia, numa escavação arqueológica pouco antes da COVID, e queria saber onde estava. O acampamento ficava no meio do deserto, conduzimos 45 minutos durante a manhã para chegar a outra parte do deserto e parecia tudo igual”, diz Mark Thiessen. “Assim como dobramos o canto de um livro para marcar uma página interessante, tirar uma foto com o telemóvel com GPS basicamente assinala esse lugar, assim como a data e hora e como é o local. É o mesmo que deixar migalhas digitais da nossa jornada.”
Mark Thiessen sublinha que, se estiver a usar uma câmara digital com recursos de GPS, essa função pode esgotar a bateria – uma solução fácil é tirar uma fotografia com o telemóvel para obter todas as informações de que precisa.
Quando tiver a oportunidade de trabalhar no seu diário analógico, pegue nas informações vindas das conveniências digitais para ajudar o seu futuro eu a preencher os detalhes em relação ao tempo e lugar. Pode ser tão simples quanto assinalar uma data (por exemplo: 16h40, East Village, Nova Iorque) por cima dos detalhes de uma memória, ou pode fazer uma coisa elaborada e dedicar uma página inteira para esboçar a forma de uma cidade ou país e traçar pontos onde viveu momentos especiais.
Dica de profissional: Não sabe sobre o que escrever? Comece pelos seus sentidos. Registar o sabor daquele doce parisiense ou o cheiro da relva na pradaria perto do Monte Rushmore é uma das maneiras mais evocativas de reviver experiências e recordar memórias.
O melhor registo da sua experiência começa com imagens e notas que evocam o que o comoveu ou inspirou em determinado momento. A sua fotografia da Torre Eiffel, por exemplo, é exclusiva do momento em que esteve no local.
O desafio do guardião do diário é destilar uma experiência expansiva numa narrativa focada. Não se pode lembrar de tudo, mas pode preservar uma sensação e imersão que é importante para si.
Esta fotografia do pagode Hankou na China e as notas que a acompanham são da coleção Phelps da National Geographic Society. Eleanor e Harris Phelps registaram as suas viagens pelo mundo inteiro; este registo é de 1880.
Becky Hale, fotógrafa da National Geographic, diz que tenta escolher uma só fotografia que evoque toda a viagem, como uma imagem que Becky imprimiu depois de visitar a Escócia com o marido.
“Sinceramente, eu podia ter passado a viagem inteira só a tirar fotografias. Quando cheguei a casa, decidi imprimir uma imagem simples que fiz enquanto caminhava nas Terras Altas da Escócia. E imprimi-a bastante grande, para tentar captar o quão pequena eu me sentia ao caminhar naquele ambiente”, diz Becky Hale. “Para mim, imprimir uma imagem única e forte que fosse emblemática de onde estivemos foi melhor do que tentar imprimir e enquadrar todos os grandes momentos da nossa viagem. Sempre que olho para aquela imagem, penso na grande caminhada da tarde, mas também em todas as paisagens deslumbrantes que encontrei durante a viagem.”
Dica de profissional: Quando fizer a curadoria das suas fotografias, não seja demasiado precioso. Imprima algumas fotos, mas não muitas; cada fotografia que escolher deve contar uma história diferente, em vez de apresentar várias imagens semelhantes. Defina um limite para as fotografias selecionadas de cada dia da sua viagem. Escolha uma imagem que capte toda a viagem para pendurar na parede.
Por mais poderosas que as fotografias sejam, não se fique pelas imagens. Depois de recolher fotografias, pensamentos aleatórios e coisas efémeras (bilhetes, folhetos, cartões postais), como é que os transforma numa história integrada no seu diário?
Imagine que o seu arquivo de viagem é um presente para si próprio daqui a alguns anos. O que pode incluir para o imbuir de significado quando o revisitar? Mantenha-o pequeno o suficiente para ser acessível, e não uma coisa esmagadora. Agrupe itens no arquivo por data e local para ajudar a ancorar momentos no espaço e no tempo. As imagens e entradas no diário ajudam-no a lembrar como se sentiu quando estava em determinado local.
Não sinta que tem de perder tempo a agonizar com cada escolha. Lembre-se, a sua curadoria deve ser uma reflexão agradável sobre as suas viagens.
Não tenha medo de pedir ajuda – ou conselhos de especialistas. Com uma coleção fotográfica que inclui imagens que datam da década de 1870, os arquivistas da National Geographic descobriram que as notas, diários, cartas e itens recolhidos são recursos inestimáveis.
“Temos principalmente ativos fotográficos, embora também tenhamos obras de arte e materiais adicionais, como legendas de fotógrafos e notas de expedição”, diz Rebecca Dupont, arquivista de imagens da National Geographic. “As legendas e notas associadas a estes ativos, muitas vezes escritas pelos próprios fotógrafos, podem fornecer histórias das suas experiências, pessoas com quem conversaram, coisas que testemunharam, para além de todas as coisas fundamentais como a data e local.”
Em qualquer viagem que faça, quer seja perto ou longe, cheia de novas experiências, ou tranquila e relaxante, pode resultar em registos tão ricos quanto os dos grandes exploradores a abrir novos caminhos. Reviver uma memória torna-se fácil com um pouco de tempo e algumas anotações.
Dica de profissional: Limite o espaço que dedica a um arquivo para cada viagem. Um caderno, um número limitado de fotografias impressas e uma pequena caixa devem ser o suficiente para as suas recordações.
Anna Lee Beyer é uma escritora sediada no Texas. Pode encontrá-la no Twitter.
George Stone, editor executivo da National Geographic Travel, e a editora Allie Yang contribuíram para este artigo.
Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site nationalgeographic.com
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Creat de altmariusclassic Dec 23, 2020 at 11:45am. Actualizat ultima dată de altmariusclassic Ian 24, 2021.
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