Lavoisier, cientista rigoroso e preciso, demonstrou a importância do oxigénio

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Antoine-Laurent de Lavoisier, demonstrou a importância do oxigénio nos processos de combustão, calcinação e respiração, descobriu a composição do ar e da água e foi um dos pais da tabela periódica dos elementos.

No dia 8 de Maio de 1794, um prisioneiro condenado à morte pediu o adiamento da execução para poder concluir uma experiência. No entanto, a resposta do presidente do tribunal revolucionário foi clara: “A República Francesa não precisa de cientistas nem de produtos químicos.” Às cinco da tarde, a Praça da Revolução viu subir ao cadafalso Antoine-Laurent de Lavoisier, um dos seus sábios mais ilustres. Lavoisier nasceu em 1743, no seio de uma abastada família de advogados de Paris. Passou vários anos no Colégio Mazarino, onde estudou com o célebre astrónomo Nicolas-Louis de Lacaille. Ao lado deste, iria familiarizar-se com o rigor dos matemáticos, que “nunca provam uma proposição a menos que a etapa anterior tenha ficado esclarecida”, como ele próprio comentou anos mais tarde. Nem sequer os seus estudos de Direito, que completou para agradar ao pai, o impediram de assistir a aulas de química e física e a conferências públicas, bem como trabalhar com alguns cientistas. Nos anos seguintes, apresentou vários ensaios e ganhou uma medalha de ouro num concurso lançado pela Academia das Ciências de Paris, onde seria admitido em 1768.

Cobrador e químico

Apesar de ser considerado o pai da química, Lavoisier não ganhava a vida como cientista, mas sim trabalhando para a Ferme Générale, uma empresa privada encarregada da cobrança de impostos para a coroa. Lavoisier, que passaria toda a sua vida a trabalhar para a Ferme, chegou a ocupar cargos importantes nesta instituição, bem como outras posições na administração do Estado.

No entanto, Lavoisier fez da sua paixão o motor da sua vida e – ao lado da sua inteligente esposa, Marie-Anne Paulze, cuja colaboração foi decisiva – entregou-se de corpo e alma à ciência. A ausência de filhos permitiu ao casal dedicar-se exclusivamente aos seus estudos. Lavoisier ensinou à esposa os segredos da química e ela, mulher dotada de grande talento, ajudava o marido tomando notas sobre as experiências, traduzindo-lhe livros de química para francês e ilustrando os seus trabalhos com desenhos detalhados.

No laboratório. Este relevo de Louis-Ernest Barrias, realizado no século XIX, mostra Lavoisier no decurso de uma experiência em que colabora a sua esposa Marie-Anne e um assistente.

Na sua casa, Lavoisier dispunha de um laboratório bem equipado onde, de forma rigorosa, levou a cabo as suas experiências. O francês viu sempre muito claramente a importância que tinha a exactidão nas suas investigações, caracterizadas pela precisão matemática com que pesava, media, anotava. Aplicou um procedimento bem definido e fez-se valer de todos os tipos de instrumentos, que lhe permitiram obter resultados determinantes para fundar uma química quantitativa que nada tinha que ver com a antiga alquimia.

Lavoisier revelou grande interesse, como outros homens da ciência antes dele, por um problema em particular: o mecanismo da combustão. Através de uma série de experiências, foi capaz de demonstrar como o ar era imprescindível para que uma substância queimasse ou oxidasse. Comprovou, desta forma, que o ar não era um elemento puro, mas sim uma mistura de oxigénio e nitrogénio, e também que o oxigénio era determinante nos processos de combustão, calcinação e oxidação, bem como na respiração animal. O cientista descobriu igualmente que a água também não era um elemento puro, mas uma combinação de oxigénio e hidrogénio. Em 1789, publicou o Tratado elementar de química, onde fixou uma ideia fundamental da química: “Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.” Além disso, Lavoisier propôs, juntamente com outros cientistas, uma nomenclatura mais clara e simples dos elementos químicos (base da célebre tabela periódica), e participou também na definição do sistema métrico decimal. A Revolução Francesa foi vista por Lavoisier como oportunidade para transformar a política, a economia, a sociedade e a cultura do país. Seria deputado suplente nos Estados Gerais de 1789 e participou em diversas comissões científicas e económicas. O seu entusiasmo, no entanto, não lhe permitiu prever a ameaça que pairava sobre ele.

Em Novembro de 1793, no auge do Terror jacobino, os odiados fermiers généraux foram presos depois de terem sido acusados de traição pela Convenção. Os 28 detidos, entre os quais Lavoisier e o seu sogro, foram julgados de forma sumária por um tribunal revolucionário em Maio de 1794. Depois de terem sido considerados culpados, foram condenados à pena de morte. No dia seguinte à execução, o matemático Joseph Lagrange lamentou aquela grande perda: “Foi preciso apenas um instante para cortar a sua cabeça; mas França não será capaz de produzir outra semelhante por um século.” Depois da execução do marido, e apesar de o seu laboratório e todos os instrumentos terem sido confiscados, Marie-Anne Paulze pôde elaborar um novo livro e, em 1805, publicou Memórias de física e química sob o nome do marido.