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Goya, um dos grandes artistas de todos os tempos

 https://www.nationalgeographic.pt/historia/grandes-reportagens/2979...goya

Retratista da nobreza, repórter gráfico avant la lettre, cronista de absurdos e explorador dos sonhos da razão, Francisco de Goya soube brandir com mestria pincéis e estiletes até se tornar um dos grandes artistas de todos os tempos.

Nascido em 1746, na pequena cidade de Fuendetodos, e educado numa família de artesãos que já detinha um certo prestígio (o pai era dourador de retábulos e molduras para telas), Francisco de Goya tinha cerca de 14 anos quando ingressou na academia do pintor José Luzán, em Saragoça. O jovem não tardou a orgulhar-se do seu talento e isso levou-o a apresentar-se em dois concursos convocados pela Real Academia de Belas-Artes de São Fernando, em Madrid, em 1763 e 1766. Estava convencido de que poderia ganhar uma bolsa para estudar em Roma, mas fracassou em ambas as ocasiões.

No entanto, este desfecho não acabou com o seu sonho. Estava decidido a viajar para Itália e, em 1770, fê-lo por conta própria. Foi uma campanha de vários meses que acabou por revelar-se proveitosa, uma vez que lhe permitiu estudar obras-primas, conhecer artistas e familiarizar-se com a técnica do fresco. A viagem foi também importante porque, aos 25 anos de idade, teve oportunidade de demonstrar o seu grande talento, ao ficar em segundo lugar no concurso organizado pela Real Academia de Belas-Artes de Parma com o Aníbal vitorioso contempla Itália a partir dos Alpes.

No final de 1771, regressa a Espanha com a convicção de que receberia encomendas importantes de imediato. E não se enganou: pouco depois de chegar a Saragoça, pôde demonstrar tudo o que aprendera em Itália na abóbada da Basílica de Nossa Senhora do Pilar. A sua fama como pintor de painéis religiosos espalhou-se rapidamente, o que lhe valeu diversas encomendas na província, entre elas as pinturas a secco dedicadas à vida da Virgem na Cartuxa de Aula Dei.

Desembarque e conquista

Mengs, pintor da corte de Carlos III, mandou chamá-lo a Madrid, provavelmente por intermédio de Francisco Bayeu, com quem Goya estivera na academia de Luzán e, na altura, era já seu cunhado. A ideia era que o aragonês realizasse uma série de desenhos com cenas tradicionais para a Real Fábrica de Tapeçarias. Goya chegou a Madrid no final de 1774, com a sua esposa, Josefa Bayeu, com quem se casara no ano anterior. Em cinco anos, fez cerca de quarenta desenhos, entre os quais obras conhecidas como Partida de caça (1775), O baile nas margens do Manzanares (1777), O guarda-sol (1777), O papagaio de papel (1778) ou O oleiro (1779).

Goya

Monumento a Goya. Esta estátua do pintor, realizada em 1902 pelo escultor valenciano Mariano Benlliure, encontra-se em frente ao Museu do Prado de Madrid. Segundo o prestigiado crítico de arte, Bernard Berenson, Goya foi o último dos pintores clássicos e o primeiro dos modernos.

Paralelamente, o artista prosseguiu a sua aprendizagem, através do estudo de pinturas de Velázquez. Graças ao acesso que tinha às colecções reais, Goya teve o privilégio de poder contemplar e analisar a obra do autor de As meninas. Mais do que isso, reproduziu também muitas das telas do génio sevilhano numa série de aguarelas. Desta forma, foi-se lentamente deixando impregnar de uns e de outros, criando o substrato necessário a partir do qual haveria de brotar um estilo próprio e único. Paralelamente, Goya soube também ajustar-se aos cânones do seu tempo, pelo que pôde gozar do tão esperado reconhecimento da Real Academia de Belas-Artes, cujas portas lhe foram abertas graças ao seu Cristo crucificado (1780). De seguida, veio o retrato do conde de Floridablanca (1783), secretário de Estado que o catapultou para a fama. De imediato, começaram a chover encomendas de diferentes membros da família do rei, bem como de grandes nobres como os duques de Osuna.

Alguns meses antes de a vizinha França ter sido abalada pelo estalar da Revolução, Carlos IV subiu ao trono de Espanha. Goya, que na altura era pintor real, foi promovido a pintor de câmara depois de realizar os retratos oficiais dos novos soberanos (1789). Seguiram-se outras encomendas reais, entre elas uma nova série de desenhos para tapeçarias, onde se contam obras como El Pelele (1791-1792) e La Boda (1792).

Os grandes mecenas de Goya. O retrato dos duques de Osuna e dos seus filhos data de 1787-1788 e está conservado no Museu do Prado em Madrid.

É uma das obras mais conhecidas que o pintor aragonês realizou para aqueles que seriam dois dos seus grandes protectores e clientes nos círculos mais exclusivos da capital espanhola. Dom Pedro, nono duque de Osuna, e Dona Josefa, duquesa de Benavente, foram um dos casais mais influentes na Madrid do seu tempo e o seu luxuoso palácio era frequentado por pintores, músicos, literatos, cientistas… O duque, coronel do Regimento da América e diplomata, era também um eminente iluminista. Membro da Real Academia Espanhola, a sua biblioteca chegou a ser uma das maiores do reino. A duquesa, por sua vez, era uma das mulheres mais modernas e elegantes da época e estava sempre ao corrente das últimas novidades no campo da arte.

Goya

1. Pedro de Alcântara Téllez-Girón e Pacheco, nono duque de Osuna, surge vestido de brigadeiro e de luto pela recente morte do seu pai.

2. Josefa Alonso-Pimentel, veste de acordo com a moda francesa da época; os botões de porcelana do seu vestido representam cenas campestres.

3. Francisco de Borja, que viria a tornar-se décimo duque de Osuna, é retratado a brincar com a bengala do pai. Goya voltou a pintá-lo aos 26 anos.

4. Josefa Manuela, a mais velha dos irmãos e futura marquesa de Camarasa, é imortalizada pelo pintor de mão dada ao seu pai.

5. Joaquina, futura marquesa de Santa Cruz, aparece apoiada no colo da duquesa; aos 21 anos seria novamente pintada por Goya.

6. Pedro, futuro príncipe de Anglona, que viria a ter um papel de destaque na Guerra da Independência, aparece sentado sobre uma almofada.

Francisco de Goya era um homem feliz: o seu trabalho era reconhecido, tinha um bom salário e desfrutava dos seus. Em 1792, decidiu viajar para a Andaluzia e fugir durante algum tempo ao ambiente da corte. No entanto, a sua estada no Sul representou um ponto de viragem na sua vida, tanto no plano pessoal, como no artístico. Em Novembro, ficou gravemente doente, provavelmente acometido por saturnismo, uma forma de envenenamento causada pelo uso de pigmentos tóxicos.

Um novo Goya

Uma vez recuperado, embora completamente surdo, o mestre regressou a Madrid. Antes de retomar as encomendas de telas, dedicou-se a despejar as suas experiências e memórias do Sul numa série de pequenas pinturas, nas quais se evidenciava que um estilo próprio, singular, realista e moderno começava a aflorar. Nos anos seguintes, o pintor conjugou encomendas como a decoração da cúpula da ermida de Santo António da Florida (1798), com outros trabalhos, entre os quais as gravuras dos seus Caprichos.

Nestas ilustrações, fazia uma crítica satírica e mordaz da sociedade numa série de cenas cheias de seres grotescos e fantásticos. A mais célebre é a número 43, intitulada O sonho da razão produz monsros (1799). Sempre se pretendeu ver nela a prova de que Goya era um homem iluminista; no entanto, nunca foi um deles: manteve relação com alguns dos protagonistas desta corrente, como Jovellanos e Moratín, que talvez o tenham inspirado quando realizou alguns dos seus Caprichos, mas essas não foram a fonte de que brotaram obras posteriores do artista.

Goya rejeitava a pincelada idealiza-a. Era um bom observador e estava convencido de que as suas obras deveriam representar a realidade sem filtros. De facto, a sua tela dedicada à família de Carlos IV (1800) foi descr ta pelo escritor Théophile Gautier como “o padeiro da esquina e a sua esposa, depois de terem ganho a lotaria”. Neste caso, Goya abordou uma das suas maiores obras com o propósito de mostrar a família real tal como ela era, sem máscaras que escondessem a fealdade natural de alguns homens e mulheres como tantos outros, só que vestidos com roupas luxuosas e envergando reluzentes jóias e medalhas.

a maja nua

A modelo misteriosa. A maja nua, uma das obras mais famosas de Goya, suscitou sempre grande debate sobre a identidade da sua modelo. Embora não existam provas neste sentido, acredita-se que o pintor estaria a pensar na duquesa Caetana de Alba ao pintar este quadro; também se tem especulado que a modelo poderia ser Pepita Tudó, primeiro amante e de seguida esposa do ministro Godoy, proprietário da tela (Museu do Prado, Madrid).

O percurso de Francisco de Goya alcançou o seu auge na passagem do século XVIII para o século XIX. Em 1799, foi  nomeado, depois de dez anos ao serviço de Carlos IV, primeiro pintor de câmara. De imediato começou a trabalhar no retrato de grupo da família real, ao mesmo tempo que realizava duas importantes encomendas do poderoso primeiro-ministro Manuel de Godoy: A maja vestida A maja nua (1790-1805). Quem era aquela Vénus? A duquesa de Alba? Uma das amantes de Godoy?

Provavelmente nunca se saberá.

Pintar sob a ocupação

A ocupação napoleónica de Espanha e o estalar da Guerra da Independência (1808-1814) marcaram profundamente um Goya já  com  alguma idade. Para muitos intelectuais e artistas, a influência francesa poderia ser determinante para transformar o país, acabar com o absolutismo e estabelecer o regime liberal. O mestre talvez se sentisse atraído por esta ideia; mas, embora tenha cumprido com as encomendas de José Bonaparte, manteve-se sempre junto da maioria do povo. Foi testemunha dos horrores da guerra e provavelmente terá visto cenas terríveis. Esta experiência, bem como as notícias que surgiam de um e de outro lado, permitiu-lhe realizar a série de gravuras Os desastres da guerra (1810-1815), nas quais plasmou a violência crua do invasor, a luta do povo pela sua liberdade, o trilho de morte e destruição que deixaram uns e outros...

Em 1814, depois de os franceses terem sido expulsos, Fernando VII regressou a Espanha. Para o receber, Goya preparou duas pinturas que evocavam os primeiros dias da luta: O 2 de Maio de 1808 em Madrid ou A luta com os mamelucos O 3 de Maio de 1808 em Madrid ou As execuções (1814). No entanto, nada voltou a ser igual. O novo monarca pretendia exercer um poder absoluto que o levou a abolir rapidamente a Constituição de 1812, a acabar com a liberdade de imprensa, a restaurar a Inquisição e a perseguir os liberais e os afrancesados. Goya teve de dar explicações sobre o seu comportamento durante a ocupação e, apesar de ter mantido a posição de pintor de câmara, acabou por se ver condenado ao ostracismo.

Goya

Além dos retratos. Para além dos seus aristocráticos retratos, Goya realizou para os duques de Osuna pinturas de temáticas relacionadas com os costumes e a religião, bem como cenas de bruxaria; estas últimas foram encomendadas pela duquesa entre 1797 e 1798. Na imagem, El aquelarre, uma das muitas pinturas realizadas por Goya para os quartos do El Capricho, o palacete que os duques possuíam na Alameda de Osuna, nos arredores de Madrid (Museu Lázaro Galdiano, Madrid).

Dom Francisco decidiu então abandonar a vida pública e dedicar-se aos seus próprios projectos, entre eles acabar com os Desastres e começar uma nova série de gravuras, A Tauromaquia (1816). Realizou também algumas pinturas que tinham como tema principal o fanatismo religioso e a crueldade representados pela Inquisição, com a qual teve um confronto por causa de A maja nua, embora tivesse acabado por se conseguir livrar das suas garras.

Da Quinta del Sordo a Bordéus

Os anos começaram a pesar e a vida na capital tornava-se sufocante. Como tal, o mestre procurou um lugar para onde se retirar, uma propriedade na periferia, conhecida como Quinta del Sordo. Ali, ao lado da sua companheira, Leocádia Weiss, Goya deu rédea solta à sua imaginação, da qual surgiram um bom punhado de cenas fantásticas, personagens grotescas, situações absurdas, imagens oníricas e surrealistas… que plasmou numa série de gravuras conhecidas como Disparates (1815-1824) e nas chamadas “pinturas negras” – pinturas murais com predominância de cores escuras e aspecto sombrio.

Em 1824, Goya decidiu que não poderia continuar a viver na opressiva Espanha de Fernando VII, para quem os liberais se tinham tornado num enorme  pedaço  de  caça.  Assim,  Goya  chegou a Bordéus, onde se estabeleceu definitivamente, depois de passar alguns meses na deslumbrante Paris. A ele, juntaram-se Leocádia e a sua filha mais nova, e ali permaneceu até o final dos seus dias, alternando o seu tempo entre os seus amigos, correspondendo-se com o seu filho Javier, pintando, experimentando e ensinando a desenhar a pequena Rosarito. Teria gostado de ter chegado aos 99 anos como Ticiano, mas o relógio do génio aragonês parou em 1828, quando tinha 82 anos.

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